Transcrevemos, abaixo, apenas os trechos relevantes do artigo de Doherty Andrade (algumas preliminares, dois lemas e o teorema final). As partes omitidas são indicadas por "(...)". Procuramos manter os detalhes tipográficos (espaçamento, negrito, itálico, etc.) próximos do original.
(...)Uma permutação sobre um conjunto é uma bijeção de A em A.
Dado o inteiro , em notação decimal, consideremos uma permutação sobre o conjunto
Representaremos por . Assim, de uma permutação dos algarismos de N, resulta um inteiro N' que, em notação decimal, se escreve
,
ou seja,
e
Lema 1. 9 é um divisor de , para todo natural n.
A demonstração pode ser feita por indução ou observando que é um número constituído somente de "noves".
Lema 2. 9 é um divisor de , quaisquer que sejam os naturais m e n.
Para provar isto (...)
Teorema. 9 é um divisor de , onde N e são dados como acima.
A prova é trivial. Observe que
.
Como (...)
Extraído do artigo de Doherty Andrade O nove misterioso, RPM 9 (1986), pp.30-31.
Os lemas 1 e 2 são verdadeiros, e suas respectivas demonstrações estão corretas. Para o Teorema final, o autor mostra que a diferença é uma soma de termos da forma , com ; e como, pelo Lema 2, cada é um múltiplo de 9, fica claro que é um múltiplo de 9. Ponto final. O que há de errado com o argumento?
O principal ponto fraco do argumento está no começo, no preâmbulo. Se o autor tivesse escrito um programa de computador com base nas suas especificações iniciais, veria as mensagens de alerta durante a execução. Veria então que o (principal) erro não está, por assim dizer, no algoritmo, mas na estrutura dos dados. Os detalhes são apresentados nas próximas páginas.
Carlos César de Araújo, 25 de agosto de 2003